CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 27
Eunice
deitada na cama lembrava-se do dia que conheceu Aurélio. O destino só Deus
sabe! Será se Aurélio lembra ainda de mim? Perguntava-se a moça. Foi numa tarde
do mês de novembro, ela juntamente com as amigas, depois da aula saiam do
Gervásio Costa direto para o ponto da beira rio. Elas adoravam apreciar o por
do sol na beira rio marataoã. De lá olhavam a ilha dos amores.
-
Dizem que lá pelo começo dos anos oitenta na ilha tinha um bar. Tu acredita,
Eunice? Eu não, mas também não duvido! Como tudo em Barras com o tempo se
acaba! Ei vamos embora pela beira do rio. Quem sabe não vemos os meninos lá da
rua no campo jogando bola.
O marataoã naquele meio do mês de novembro de
1995, com a diminuição do curso d’água, uma grande área verde de capim aparecia
perto da beira do rio. Os rapazes usavam o local para jogar bola. O campo de
futebol da beira do marataoã com o capim verde, o local ideal para as partidas
de futebol a tardezinha.
A bola de fogo suspensa nos céus barrense
queimava os olhos de Aurélio, com o reflexo das lâminas d’água do rio. O olhar
desolador dos moleques inertes lá de cima do morro de piçarra ruborizava com o
pouco liquido cristalino deslizando nas correntezas.
O marataoã naquele dezesseis de novembro,
depois do feriado da República ainda com águas velhas, ondas nervosas, de
coloração escura, onde as alegrias não deixavam a vida passar e parecia tudo
inerte naquele lindo por do sol. O
ígneo sol descia dos ares para o lado do bairro Pedrinhas.
As últimas réstias iluminavam os tetos estrelados das
casas. Raios ágeis e peregrinos na imensidão profunda do puro fogo áureo a
encher o espaço dourado dos céus barrenses. O fim de tarde, natureza do tempo
viva sob os pilares insólitos dos enredos solares.
Aqui e ali os olhos dos meninos espreitavam os ecos
longos que à distância se martirizavam no grito de um lado a outro da margem do
rio. Tão vasto quanto o sol esculpindo as estátuas de luz no único clarão
dourado que ainda brincava sem angústia, sob o meigo céu que lhes dourava o
horizonte.
- O marataoã está
a cada dia mais seco. Repetia Aurélio, com a mão em pala ao olhar para o lado
da prainha.
O outro rapaz,
João Alberto com a bola debaixo do braço sentia o vento seco bater no rosto. O
redemoinho em coreografias acrobáticas pelo ar levantava os sacos plásticos e
esvaia-se no meio das águas. Ao longe, as casas de palhas do bairro Prainha balançavam-se aos ventos fortes.
A conversa
dos meninos era sobre o lugar, onde enfiar as traves e jogarem futebol. Entravam
em debate caloroso e o sol sumindo nos céus barrenses. Os rapazes apressavam-se
para bater bola no fim de tarde.
- Vamos
logo? Inquiriu Aurélio, alargando o riso que não cabia nos olhos ao ver de
longe Eunice chegando com outras amigas do colégio.
- Mathias
joga a bola! emendou Davi. Enfiei as traves! Eu divido os times! É tu para cá e tu para lá.
- E o
Aurélio? Nem me fala, ele é sempre do time sem camisa. Entre Mathias e Cassanha,
escolho o Mathias, pois é um bom goleiro.
AGUARDE CAPÍTULO 28
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