CHÃO DE FOGO,
CAPÍTULO 23
- Eita estória
comprida seu Cassimiro, deu-me até sono. Senhor Cassimiro é sabido assim, como
eu. Ah ah ah ah, ah, ah aprende a lição da vida João Alberto, tu não queres nem
estudar.
- O quê? Sou
filho do prefeito agora? Eita está podendo, hein. Já, Já ele te compra um
carro. Tu sabes que teu pai vendeu o comércio lá do mercado para entrar na
política. Ah ah ah política é que é o négocio.
- Você é
ingênuo, Aurélio, ingênuo e bobo. Vou te falar, vou te dizer umas coisas, sabe?
Você vai ficar logo esperto, você não sabe que tudo aqui em Barras tem perseguição
política.
- Ah, é mesmo,
não diga.
- Deixa eu te
contar, deixa. Sim, sim diga. Aquele comércio bonito, imponente, o governo queria
arrancar imposto e mais imposto! O pessoal da coletoria destroem tudo, tudo,
pode ser qualquer comércio aqui em Barras, do grande ao pequeno.
Todo o trabalho,
todo o suor que papai depositou ali, vai receber depois que assumir a
prefeitura.
- Isso vai dar
é merda, cara! Que nada! Papai disse que dinheiro da Prefeitura, gestor nenhum
se condenado, devolve.
- Nunca no
Brasil! Ele disse que na política, você tem de virar abutre para se defender, é
melhor, quebrar a cabeça com a política do que com o comércio.
-
Sabe? Agora que papai vai ser prefeito das Barras! Sério, sim, vamos investir
todo o dinheiro público na saúde, educação, social e principalmente na cultura.
Ele vai arranjar uma boquinha para mamãe na secretaria.
- João Alberto, acho que não é hora de falar
em política. Está somente há um dia que mamãe morreu! Nem sei meu destino. Sim!
É mesmo! Aceite meus pêsames.
Da calçada da casa, senhor Cassimiro olhava os
dois amigos caminharem para a casa de finada Sinhá. Umas pessoas passavam na
rua e comentava sobre o falecimento da mulher. Aristeu aproximava-se do homem
em pé na calçada pensativo. É compadre Cassimiro, o Aurélio está é triste.
Depois que Aristeu passava na rua, a noite foi toda de
preocupações com a morte de dona Sinhá. Seu Cassimiro sentia de verdade a morte
da vizinha. Uma mulher nova e os filhos, coitados, vão sofrer muito a falta
dela, dizia o homem.
- A família não tem coração, cada menino da mulher vai ficar
com um parente. E só hoje que apareceu um tio marcando o dia para levar o
Aurélio para Teresina.
De noite, porém, na casa da falecida já aparecia outros
parentes para levar os meninos. Carolina, Fernando, Salviano arrumavam as
malas. Aurélio com uma mochila nas costas enquanto, o tio Tonho fechava a casa
com um cadeado. Eles apressavam-se para irem embarcar para Teresina.
Assim que saiam para a rodoviária, Aurélio sacudiu o chinelo
e foi até seu Cassimiro agradecer o homem pelo trabalho que tivera com o
velório. Pedia desculpas por tudo e agradecia.
- Obrigado! Não precisa me agradecer de nada. Pois é! Tchau! Tchau. Até mais. Boa sorte na
capital!
Ele olhava para o rapaz descobrindo alguns traços do neto,
irmão de Eunice que morrera de acidente de moto. Sobretudo os olhos castanhos
claros e a vontade de vencer na vida.
- Coitado daqueles meninos, agora sem mãe. Cassimiro disse
para dona Mundoca.
- Esse parente da finada, só tem conversa! É um matuto
velho. Tive vontade de dizer umas verdades. Bicho sem coração! Separar os
meninos.
- Ele não devia fazer isto, não é vovô. Dizia Eunice.
Da janela da casa do senhor
Cassimiro na rua 10 de novembro, a neta dele, Eunice dizia não concordar com a
viagem de Aurélio para Teresina. Ela, uma moça de costumes estranhos, vestuário
de roupas na cor negra, metida a gótica, porém delicada nas doces palavras.
Eunice
tinha os cabelos lisos, pretos e grandes olhos castanhos da cor de mel. Quando
a moça abria os lábios sensuais para falar, completava-se a beleza impecável de
uma legítima índia barrense. Mas era assim, um pouco tímida.
- Eunice,
o sino da igreja tocou a primeira badalada da novena. Dizia dona Mundoca. Não,
ainda não vovó! Você já pode ir? Vovó depois que envelheceu só fala de igreja.
Por isso
que dizem que á medida que se envelhece, as pessoas tentam curar os pecados da
juventude dentro da igreja, eu hein, ela sabe que tem pouco tempo de vida e que
devia mesmo era aproveitar a aposentadoria dela.
- Eunice,
Eunice! Te apressa, vamos para a novena. Estou sabendo que o Eusébio vai levar
o negócio. Ele arranjou? Sim! Lá para bandas do Matadouro com uns colegas dele.
Estou com medo, tu sabes que a polícia está de olho.
Dorinha gritou lá do fim da rua, chamando
incansavelmente pela amiga, Eunice. Ei, minha irmã tu se lembra daquele dia, depois
do colégio, quando fomos ver o por do sol na beira rio? Sim sei? Ah, não minha
irmã ver o por do sol no marataoã só presta mesmo, quando os meninos estão por
lá no futebol.
- Quem? Os meninos aqui da rua! Tu dizes isso pelo Aurélio!
Sim! A mãe dele morreu não é? Ele foi hoje para Teresina com a chata de prima
dele, a Creusa e o intrometido do Getúlio.
- E teu coração? Daquele jeito, apertado com uma
saudade. Agora que você desencantou no namoro! Pois, não é. Que destino!
AGUARDE CAPÍTULO 24
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