domingo, 24 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 23

- Eita estória comprida seu Cassimiro, deu-me até sono. Senhor Cassimiro é sabido assim, como eu. Ah ah ah ah, ah, ah aprende a lição da vida João Alberto, tu não queres nem estudar.
- O quê? Sou filho do prefeito agora? Eita está podendo, hein. Já, Já ele te compra um carro. Tu sabes que teu pai vendeu o comércio lá do mercado para entrar na política. Ah ah ah política é que é o négocio.
- Você é ingênuo, Aurélio, ingênuo e bobo. Vou te falar, vou te dizer umas coisas, sabe? Você vai ficar logo esperto, você não sabe que tudo aqui em Barras tem perseguição política.
- Ah, é mesmo, não diga. 
- Deixa eu te contar, deixa. Sim, sim diga. Aquele comércio bonito, imponente, o governo queria arrancar imposto e mais imposto! O pessoal da coletoria destroem tudo, tudo, pode ser qualquer comércio aqui em Barras, do grande ao pequeno.
Todo o trabalho, todo o suor que papai depositou ali, vai receber depois que assumir a prefeitura.
- Isso vai dar é merda, cara! Que nada! Papai disse que dinheiro da Prefeitura, gestor nenhum se condenado, devolve.
- Nunca no Brasil! Ele disse que na política, você tem de virar abutre para se defender, é melhor, quebrar a cabeça com a política do que com o comércio.
 - Sabe? Agora que papai vai ser prefeito das Barras! Sério, sim, vamos investir todo o dinheiro público na saúde, educação, social e principalmente na cultura. Ele vai arranjar uma boquinha para mamãe na secretaria.
- João Alberto, acho que não é hora de falar em política. Está somente há um dia que mamãe morreu! Nem sei meu destino. Sim! É mesmo! Aceite meus pêsames.
Da calçada da casa, senhor Cassimiro olhava os dois amigos caminharem para a casa de finada Sinhá. Umas pessoas passavam na rua e comentava sobre o falecimento da mulher. Aristeu aproximava-se do homem em pé na calçada pensativo. É compadre Cassimiro, o Aurélio está é triste.
Depois que Aristeu passava na rua, a noite foi toda de preocupações com a morte de dona Sinhá. Seu Cassimiro sentia de verdade a morte da vizinha. Uma mulher nova e os filhos, coitados, vão sofrer muito a falta dela, dizia o homem.
- A família não tem coração, cada menino da mulher vai ficar com um parente. E só hoje que apareceu um tio marcando o dia para levar o Aurélio para Teresina. 

De noite, porém, na casa da falecida já aparecia outros parentes para levar os meninos. Carolina, Fernando, Salviano arrumavam as malas. Aurélio com uma mochila nas costas enquanto, o tio Tonho fechava a casa com um cadeado. Eles apressavam-se para irem embarcar para Teresina.

Assim que saiam para a rodoviária, Aurélio sacudiu o chinelo e foi até seu Cassimiro agradecer o homem pelo trabalho que tivera com o velório. Pedia desculpas por tudo e agradecia.

- Obrigado! Não precisa me agradecer de nada. Pois é! Tchau! Tchau. Até mais. Boa sorte na capital!
Ele olhava para o rapaz descobrindo alguns traços do neto, irmão de Eunice que morrera de acidente de moto. Sobretudo os olhos castanhos claros e a vontade de vencer na vida.
- Coitado daqueles meninos, agora sem mãe. Cassimiro disse para dona Mundoca.

- Esse parente da finada, só tem conversa! É um matuto velho. Tive vontade de dizer umas verdades. Bicho sem coração! Separar os meninos.

- Ele não devia fazer isto, não é vovô. Dizia Eunice.

Da janela da casa do senhor Cassimiro na rua 10 de novembro, a neta dele, Eunice dizia não concordar com a viagem de Aurélio para Teresina. Ela, uma moça de costumes estranhos, vestuário de roupas na cor negra, metida a gótica, porém delicada nas doces palavras.

Eunice tinha os cabelos lisos, pretos e grandes olhos castanhos da cor de mel. Quando a moça abria os lábios sensuais para falar, completava-se a beleza impecável de uma legítima índia barrense. Mas era assim, um pouco tímida.

- Eunice, o sino da igreja tocou a primeira badalada da novena. Dizia dona Mundoca. Não, ainda não vovó! Você já pode ir? Vovó depois que envelheceu só fala de igreja.

Por isso que dizem que á medida que se envelhece, as pessoas tentam curar os pecados da juventude dentro da igreja, eu hein, ela sabe que tem pouco tempo de vida e que devia mesmo era aproveitar a aposentadoria dela.

- Eunice, Eunice! Te apressa, vamos para a novena. Estou sabendo que o Eusébio vai levar o negócio. Ele arranjou? Sim! Lá para bandas do Matadouro com uns colegas dele. Estou com medo, tu sabes que a polícia está de olho.

Dorinha gritou lá do fim da rua, chamando incansavelmente pela amiga, Eunice. Ei, minha irmã tu se lembra daquele dia, depois do colégio, quando fomos ver o por do sol na beira rio? Sim sei? Ah, não minha irmã ver o por do sol no marataoã só presta mesmo, quando os meninos estão por lá no futebol.

- Quem? Os meninos aqui da rua! Tu dizes isso pelo Aurélio! Sim! A mãe dele morreu não é? Ele foi hoje para Teresina com a chata de prima dele, a Creusa e o intrometido do Getúlio.

- E teu coração? Daquele jeito, apertado com uma saudade. Agora que você desencantou no namoro! Pois, não é. Que destino!

AGUARDE CAPÍTULO 24

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