CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 04
A noite do fim do mês de novembro prosseguia. Estava Pedro Adão na rua do
brega, um lugar de agitação nas noites barrenses. O Bar do Zezinho estava
calmo, somente poucos fregueses ali, bêbados, outros já cansados da farra.
Clima de decadência, pobreza, uma tristeza que não cabia no bolso esfarrapado
de Pedro Adão que sorrateiramente levantou-se para ir embora, sem antes não
tentar expiar a nudez de Michele. Michele, uma mulher cujos dotes eram a preços
de ouro. Uma das mais cobiçadas do bar do Zezinho.
O começo dos festejos, naquele domingo de novembro de 1995,
lá do bar do Zezinho escutava-se o barulho dos fogos, na abertura. Pedro Adão
tinha tomado todas com os colegas comemorando a vitória do Pequizeiro. Por outro
lado o homem revoltara-se com a demissão na prefeitura pelo prefeito derrotado
Firmino Carneiro. Dirigiu-se sozinho para o quarto das mulheres. Trepou numa
das cadeiras para olhar por cima da parede, a jovem Michele que estava nua na
cama com um cliente. De repente, Zezinho gritou para o homem:
- Ei, sai já daí. Você é um moleque, homem não faz uma coisa dessa!
E o homem bateu com uma tramela da porta na cabeça do
miserável. Quem visse o buraco na cabeça de Pedro Adão sentia a piedade humana.
Zezinho ainda agarrou o casco da garrafa e sacudiu no atrevido. Pegou no braço,
e a pancada comeu. Correu gente para todos os lados.
Quando Michele viu o sangue, correu aterrorizada. As outras
mulheres do local trancaram-se nos quartos. Uma multidão perseguida pela
curiosidade lotou a porta do bar. Ouvia-se o barulho da confusão até lá da rua
10 de novembro. Aquilo foi como um
bofete em Zezinho, quando alguém desrespeitava o ambiente, ou não pagava alguma
pinga de cachaça.
De repente, um tapa estalou no
rosto de Pedro Adão. O homem virou o mundo, num giro de 360 graus. Sim, um
susto, uma pancada que deixou o pobre homem inerte no chão do bar.
- O que é isso?
Pedro Adão caído no chão continuava
sem se mover, as pernas com movimentos desordenados, não obedecia aos comandos
do cérebro. Ele não via nada com o olho esquerdo que já roxo, fechava-se para
balanço. Quando Zezinho iria partir para cima do homem novamente, Alcides
entrou no meio e apartou os dois.
- Mande chamar a polícia, mande, cabra de peia! Não quero
caloteiro por aqui.
Quando ficou de pé, Pedro Adão na frente do balcão, oprimido
nos soluços que se elevavam com o protesto da cabeça machucada, se queixava da
dor.
- Seu doido, olha a bagaceira que tu fizeste.
- Aqui no meu bar tem respeito! Respondia Zezinho.
Logo, a polícia chegava na 47 e o soldado já vinha com o
cassetete exposto por cima do cinto de guarnição, pronto para a ação. O cabo,
um sujeito baixinho e torneado dava voz de prisão aos dois.
-
Zezinho tu me paga! Oh, não
bate em mim! Implorou Pedro Adão. Já
chega Zezinho, se não vai perder o descompasso. Desse jeito, tu vai perder a
razão. Dizia o cabo.
Não
se ouvia nem um sussurro no bar, quando a polícia chegava. As fúrias e
explosões violentas dos clientes exaltados acalmavam-se. Cada bêbado ali pelos
cantos sentados nas mesas, com a presença da guarnição sentia-se uns condenados
ao castigo, embora na mais cândida inocência.
E
mesmo não havia inocentes. A polícia quando pegava um para Cristo, Deus do céu,
e era só para mostrar serviço, logo a burduada comia pelo pé do ouvido. Pedro
Adão dentro da viatura. Zezinho sentado no banco detrás perto do soldado,
depois do regaço no bar, não tinha razão, mas o sistema da polícia quando
chegava à delegacia já se podia prever.
- Meu Deus do céu, tudo por causa
da maldita cachaça. Dizia Michele.
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