quinta-feira, 21 de junho de 2012



CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 20


Dentro da mata dos cocais, os ciganos comiam umas coroas de frades. Eles comiam as frutinhas doces, misteriosa e indômita. O cigano Ventania fazia sempre o sinal para os outros homens. Entretanto, fez uma pausa em seu trabalho e se apoiou no fuzil muito sonolento da noite de vigília no mato.

Os moradores do Mocambo adoravam o cigano mestre Zé de Lauro desde os tempos de curandeiro e ofertavam comidas aos homens escondidos no mato.  Para o líder do bando, a única filha do coronel Hilário jamais se casaria com o comandante do destacamento da Polícia Militar de Barras, mesmo que não existisse outra opção. Hilário e Zé de Lauro tinham algo em comum, o coronel já tinha precisado e muito dos serviços dele. A cigana dona Teodora sabia o segredo dos dois. A cigana velha soube por Zeca Piedade que a moça tinha sido mesmo desonrada por Zé de Lauro e que o  filho que morrera de Rute era dele.

Nos últimos anos, nada parecia alterar o passado. A cigana tinha tido que esforçar-se para não revelar a carga do conhecimento.  Quando Zé de Lauro chegou ao acampamento com Rute, ela agitou a cabeça, desprezou seus afazeres para olhar Rute, enquanto conversava com Zé de Lauro. Haveria mudanças profundas na vida deles durante o tempo em que coronel Hilário havia os expulsado das terras do Mocambo.

O cigano Volta Seca tinha ouvido da mãe que Rute não poderia está ali. Rute, não entendeu o conteúdo da conversa. Ela sabia que tinha sido um erro infeliz, Zé de Lauro trazê-la com ele. Não tinha motivos para aceitar aquilo. Nesse momento Rute se virou para olhá-la e chorou, e foi como se um raio de sol tivesse passado através de uma nuvem.

Naquela manhã de outubro debaixo de uns pés de carnaúbas, a beira do riacho pontião no Mocambo. A expressão do rosto da  cigana Teodora vendo os dois juntos negrou sua alma. O destino não poderia permitir aquela união. Ela tinha visto nas cartas. Saudando-os com um rápido e sombrio gesto de assentimento, a velha cigana limpou as lágrimas do rosto.  Ela sentia que aquele gesto de reprovação selara seu destino.

Debaixo do sol das nove horas do dia.  O pequeno cigano Sabiá alertava Zé de Lauro do grande efetivo da polícia que vira chegando à Fazenda de coronel Hilário. Os policiais destacados para a missão avançavam mata adentro. O outro cigano, Volta seca disse:

- Zé de Lauro César, os soldados são muitos.

Talvez por não conhecedor o caráter agressivo dos militares, Zé de Lauro ignorou o conselho do amigo. Ele respondeu:

- Vamos vencer cabra, vamos vencer, sempre vencemos lembra? Está amarelando agora, homem.

Partindo em meio às caatingas e unha de gato, Zé de Lauro sabia que o comandante do destacamento de Barras, não sabia sobre o pequeno número de ciganos e desconhecia o terreno. Mais uma vez, o líder dos ciganos dispensou o conselho do amigo. Quando chegou perto do riacho pontião no Mocambo, o tenente Jerônimo mandou que os policiais ao avistarem os homens podiam atirar.

Em seguida, ordenou que o sargento Morais e o soldado Cássio voltassem para guarnecer o caminhão da polícia na Fazenda. Aos demais, que o seguissem por dentro da mata. Adentraram por uma vereda que dava acesso ao riacho Pontião.

Em dado momento, inesperadamente sentado debaixo de uma árvore no espesso matagal, um cigano cochilava com o fuzil nas mãos. A guarnição saiu em sua perseguição. Eis que inopinada e inesperadamente, os militares cercaram e atacaram ferozmente, os poucos ciganos que foram surpreendidos no meio da mata. Armados de fuzis e em poucos minutos, jaziam mortos os ciganos Volta Seca, Boca negra, o pequeno cigano Sabiá e os militares cabo Justino e o soldado José.

Lá de dentro da mata, gritos de desespero ecoados pelos ventos vindo do riacho Pontião. A cigana Teodora sentada na entrada da gruta ouvia o estampido de mais tiros oriundos da mata. O cigano Ventania correu e falou para Zé de Lauro que estava dentro da gruta:

- Meu irmão Volta Seca ,Boca Negra e pequeno Sabiá foram atacados. Os soldados são muitos.

Zé de Lauro depois de cinco minutos, viu um vulto se arrastando pelo mato e chegando até a gruta. O jovem cigano Adonias sangrando. O rapaz com um tiro no peito e cortes profundos na cabeça. Tremendo e arquejando, ele ainda disse, não deixem que os macacos acabem de me matar. Logo após, ouviam-se só uns gemidos vindo do mato. Era os ciganos Simon Bolívar  e Sete Léguas arrastando outros feridos e quase morrendo. Foram atacados de surpresa.

- Vi Volta Seca estirado no chão e o Boca negra também.  Acho que morreram. Disse Sete Léguas.

O cigano Sete Léguas reuniu os outros capazes de se moverem, mesmo os feridos em pequena gravidade, e foram ao encontro da cigana Teodora na gruta.
- Vamos para o esconderijo. Gritou Sete Léguas.

AGUARDE CAPÍTULO 21

Nenhum comentário:

Postar um comentário