CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 24
Debaixo do sol dourado de dezembro na terra
de marataoã, as primeiras luzes do amanhecer do dia raiavam na bela terra
barrense. O mercado público agitava-se com a multidão que chegava para as
compras do sábado.
O centro Comercial amanhecia sonolento,
pessoas aperreadas e zanzando de um lado a outro. Na rua 10 de novembro
respirava a liberdade vista nos rostos do povo barrense que ria.
Com as festas da padroeira no centro da cidade, os barrenses
viam a cidade de Barras cheia de gente do interior na feira. As lojas de
sapatos e roupas lotadas de tanta gente. Era uma coisa grandiosa o começo dos
festejos de nossa senhora da Conceição. Nunca se via tanto povo junto, no
rebuliço das festas religiosas, na confusão do bate-boca dos que vendem e
trocam.
Na entrada do centro Comercial havia de tudo. Da rapadura
dos engenhos da Boa Hora a carne-de-sol de Campo Maior. Os Box do lado direito
do centro Comercial Aurélio Carvalho lotado de gêneros. Na fila da carne gente
falando alto, cheiro de sangue podre dos peixes do João da tilápia na salmoura,
lá do outro lado. Outros aperreados pelo olhar diabólico do chefe do centro
Comercial que via o chão da entrada repleto de coisas e queria cobrar imposto.
- Aqui está tudo barato, senhora. Esse chefe aí é uma
desgraça. Quer cobrar imposto até aqui fora, aqui na pedra.
O
barulho infernal do Centro Comercial despertava depois da madrugada de
silêncio. No meio do lugar, mulheres espalhavam os cheiros verdes nas bancas,
outros milhos e feijão de corda pelo chão. Tomate para um lado, cebolas no
outro. Acordado desde as quatro horas da manhã, João da tilápia depois de
passar um tempão, imaginando, e cochilar outra vez, ele tratava de limpar os
peixes dentro do isopor grande.
O isopor
cheio de peixes misturados às escamas, vísceras e a saliva do homem pingando
dentro, quando falava com os clientes. Dos
lábios trêmulos saia palavras de blasfêmias e nas mãos ágeis a retirar as
guelras dos peixes, uma máquina. Dali saia palavras ingratas, como o sangue fétido nas mãos a segurar a faca para
abrir os peixes.
Com palavras rápidas, inaudíveis, ele começou
a relatar a triste vida que tinha no vício dos jogos no centro Comercial. João
da tilápia de cócoras, depois de tomar o café com bolacha seca na banca da
Teresa, acelerava o serviço e a prosa sempre cheia de ironias. Os cães
espreitando alguma coisa espiavam o homem que de vez enquanto, atirava algo
para os animais famintos.
Depois,
com o avental branco todo ensangüentado, o homem de pé no balcão braços
descruzado não assistia os clientes chegarem. Senhor Cassimiro levantou-se da
banca da Teresa e caminhou até onde o homem estava. Ele ficou em pé diante
dele. O homem saiu para um canto do Box, perto da balança e com os olhos
nadando em lágrimas, lamentava-se.
- O que foi João? É essa vida desgraçada de jogo! Como
assim? Tudo que ganho, perco na mesa do baralho.
- Tem que largar isso, homem. Deixa jogo de mão.
E as mesmas palavras, e as mesmas lágrimas derramadas.
Levantou-se tremendo.
- Venha aqui, vamos conversar!
Uma impressão de terror oprimia-o todo. Senhor Cassimiro
conversava com ele.
- Não fica assim.
O lamento do homem era de todos os dias, mas todos os dias,
assim era demais. Ninguém dava uma palavra de conforto para o pobre homem. Ele
até queria mudar seu destino. Dizia uma
hora que não gostava do genro, o Pedro Adão, noutra já dizia que ia entrar na crença.
Quando acordava nas noites e saia para o centro Comercial às escuras, a
angústia crescia.
O homem trabalhava muito e o dinheiro que ganhava ia tudo num
instante, no jogo de baralho no final da tarde, ou mesmo no caipira. Quando
senhor Cassimiro conversou com ele, os olhos dele se encheram de admiração. João
parecia um novo homem.
Olhou para a parede do Box do mercado, por entre os peixes
dependurado havia um quadro grande, representando a santíssima Trindade. Levantou
a vista para olhar a imagem, João da tilápia disse que Deus iria livrar-lhe do
vicio do jogo.
- Pede, sim, que Deus faz. E te digo mais, não precisa
entrar na crença para se mudar, ser evangélico.
João da tilápia lá do Box oito apresentava-se
para a clientela, como um novo homem. Cheio de disposição depois da conversa
com Cassimiro. O homem com a enorme barba branca e a língua eriçada de palavras
gritava o preço do peixe que a saliva saia pelos cantos da boca, se babando. O pessoal aproximava-se da banca dos peixes.
- O peixe está fresquinho e é daqui, é do marataoã!
Ah sim, um quilo para senhora, e o freguês o que manda! Pois bem, pois bem, pois sim,
muito bem. Um quilo para mim de piau, e
surubim, dizia dona Santinha.
Cassimiro voltava para tomar café na banca
da Teresa. Honório chegava do outro lado do centro Comercial. Que cheirinho de café
saboroso que ganha os ares do mercado das Barras, eu gosto meio amargo dona
Teresa, me coloca numa xícara das grandes.
- Vixe! Esse aí só toma café fiado. Resmungava dona Teresa.
AGUARDE CAPÍTULO 25
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